terça-feira, 6 de junho de 2006

Edição 06/06 Entrevista com o Barão

Entrevista com o Barão



Após apartar-se da vida mundana, Barão de Inhangapi começou a ter espasmos criativos. Diz que inspirados diretamente pelo Inri de Indaial, com quem anda mentalmente sintonizado.

Resolveu, então, diversificar a produção artística, com o lançamento do autobiográfico “A Arte da Velhacaria – 99 leis, em 99 páginas, para conquistar e manter o Poder”.

Novamente à frente de seus concorrentes, a Perereca traz, em primeira mão, entrevista com o Barão sobre esse grandioso evento literário. Certamente, o best-seller do milênio - em Inhangapi. Ei-la:

Perereca: Por que o senhor desistiu de tudo?
Barão: Por uma razão muito simples: nunca fui apegado a nada – terras, dinheiro, poder. Até hoje, aliás, minha bebida predileta é uma boa e velha Cerpa. E meus hábitos, muito simples: nos finais de semana, vôo até São Benedito, em companhia de parentes e amigos. Como a senhora pode ver, uma existência frugal, principalmente no trabalho, que me consome, apenas, umas três horas por dia.

Perereca: E no entanto, Barão, o senhor enriqueceu. Como explicar esse paradoxo?
Barão: Veja, minha senhora: trata-se de um paradoxo aparente. Como tudo na vida, aliás. Ao olhar uma árvore a senhora dirá: marrom, com folhas verdes. Mas de onde vêm o verde e o marrom? São, apenas, fenômenos produzidos pela luz! E que dependem, além disso, do ângulo do observador. Se eu fosse um defunto, por exemplo, as folhas talvez não parecessem verdes, pela dor que isso provocaria em meu ser. Então, tudo, minha senhora, é muito relativo. Nada fiz além de dar sustentatibilidade ao meu projeto de vida.

Perereca: Mas não foi com dinheiro público?
Barão: Mas dinheiro público quer dizer isso mesmo: dinheiro de todos! Vão me acusar de que, afinal? De sacar, antecipadamente, meu FTGS? Doei a Inhangapi os melhores anos da minha vida. Até fiquei careca de tanto pensar no seu desenvolvimento! Por causa disso, tenho problemas com as mulheres até hoje. Veja quantos tônicos capilares existem no mercado. Se isso não fosse problema, por que haveria tantos?

Perereca: Mas, Barão, não estamos falando de tônicos capilares...
Barão: Estamos sim, é claro que estamos! Some aí: dois mais três, mais quatro, igual a 10. Não é? Pois é esse o problema da careca, minha senhora, todo mundo sabe que não é, mas todas supõem a inter-relação. Ando até traumatizado com isso. Já passei sabonete da salvação, óleo de santa unção, terra de Jericó, lama do rio Jordão – e nada. A senhora acha que fica bem um implante?

Perereca: Bom, pra campanha, sempre dá pra usar o Photoshop...
Barão: Não estamos falando em campanha, esqueça a campanha. Estou pensando em pintar os brancos e encher de fios pretos, aqui pelo meio, dá pra ver, não é? A senhora acha que ruivo fica exagerado?

Perereca: Voltemos, por favor, ao seu livro: “A Arte da Velhacaria – 99 leis, em 99 páginas, para conquistar e manter o Poder”. Não é um título estranho para a autobiografia de alguém tão desprendido?
Barão: Esse nome me veio justamente do último tônico capilar que usei: “99 fios a cada manhã”. Mas, veja a senhora, nada aconteceu. Até pensei em processar o fabricante. Mas acabei compondo uma canção. A senhora quer ouvir? (pega o violão e ataca: um só fio/ meio vazio/ assim é o mundo/ por que não tudo?/Por que não tuuuuuuudooooo).

Perereca: É, como direi, de antitética sublimidade... Mas voltando a sua conversão. Qual o peso do Inri de Indaial na sua decisão de largar tudo?
Barão: Quando encontrei o Inri, foi como se encontrasse a minha alma gêmea: percebi que não estava sozinho; que, afinal, existe mais gente como eu. E ele, com aquele cabelo comprido. Tufos e tufos deslizando pelos ombros. Não, ele é mais que alma gêmea: é o meu ideal! E aquele discurso...

Perereca: Messiânico.
Barão: É! Fez-me lembrar da missão que sempre tive. Desse grande projeto de um novo Inhangapi, com cadeias produtivas...

Perereca: Bem, infelizmente, Barão, nosso tempo acabou.
Barão: Mas isso não é Tv! É um blog!

Perereca: Pois é, mas pode ficar maçante. E depois, aparece aí algum anúncio e vão pensar que a entrevista foi encomendada pelo Lord Balloon. Não fica bem, né?
Barão: Ah, é claro! A senhora tem de parecer acima do bem e do mal...

Perereca: Não é nada disso, Barão, se acalme, as pessoas vão ler...
Barão: Que leiam, minha senhora! Quem sabe, assim, eu consiga um tônico que preste!

Perereca: Bem, muito obrigada, Barão...
Barão: A senhora pode me fazer um último favor?

Perereca: É pra dar teco em outra cor de implante?
Barão: Não...Me quebre um galho...Escreva meu livro...

Perereca: Mas não está escrito?!!!
Barão: Não. Até agora só me ocorreu o título...

Perereca: Mas por que o senhor não pede ao Barão dos Cadeados? Ele vive doido pra puxar o saco de todo mundo...
Barão: É que a minha família tem verdadeira adoração pela senhora...

Perereca: Mas como é que eu faço isso?
Barão: Eu lhe entrego as fitas gravadas com as minhas memórias.

Perereca: E o senhor confia em mim, é?
Barão: De olhos fechados. Por quê? Haveria algum motivo pra não confiar? A senhora também despreza os carecas, é?

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