quarta-feira, 30 de julho de 2008

Os traficantes



Das fotos e dos jornalistas



Pessoal:




Sinceramente, que aqui onde me encontro não dá nem para me meter em polêmicas.



A internet daqui é tão forreca que uma postagem que fiz de madrugada, só foi publicada no final da manhã seguinte – mais valia sinal de fumaça, né mermo?



Mas, abri meu e-mail e dei com um e-mail do site Comunique-se, acerca de um pedido da ANJ e de um tal de CPJ (Comitê de Proteção aos Jornalistas), às autoridades brasileiras, para que os jornalistas possamos trabalhar.



Caramba, companheiros (e olhem que já sou registrada, visse?...) que corporativismo enlouquecido, que falta de visão!...



Faz-se um escândalo danado porque uns cinco ou seis fotógrafos foram obrigados a zerar suas máquinas, devido às ordens de traficantes, num morro do Rio de Janeiro.



Faz-se um escândalo danado – e até se institui um prêmio – devido a um jornalista, Tim Lopes, barbaramente assassinado por traficantes.



Quer dizer, só o que escandaliza é quando essa violência atinge os jornalistas, é?



O que tem de escandalizar, de fato, companheiros, é essa barbárie, é essa servidão forçada a que são submetidos milhares, milhões de cidadãos, por esses marginais.



É a audácia daqueles que, por possuírem uma arma, acham que podem fazer desmoronar o Estado, a Justiça, a Democracia, o Estado de direitos.



O jornalista, nesta história toda, é um grãozinho de areia.



Grave, gravíssima, é a falta de acesso à Cidadania desses milhares, milhões de cidadãos favelados.



Grave, gravíssimo, é que um indivíduo, a comandar outros tantos indivíduos de sua laia, acredite que, por ter em mãos granadas, escopetas, fuzis, bazucas, possa, impunemente, fazer valer os seus ditames criminosos, em face dos interesses da sociedade.



Quem eles pensam que são? Uns Lampiões piorados, é? Pois, que se lhes dê, então, uma belíssima dosagem de Angico...



E o que me incomoda é esse corporativismo cego, doido.



Quer dizer: não pode apagar a foto de um fotógrafo, né?, ou impedir a visita de um candidato, né?



Mas pode, sem mais escândalos, submeter populações inteiras, cotidianamente, a esse Estado de Terror?



Companheiros, o que me interessa não são as fotos – embora que eu morra a defender que sejam, democraticamente, permitidas, né mermo?



O que me interessa – e essa é, de fato, a notícia, a “manchete” – é a que ponto de desgoverno, de “anomia” se chegou nos morros do Rio de Janeiro e em tantos outros locais deste Brasil, em função desse governo paralelo, virtualmente arquitetado pelos traficantes de drogas.



É essa a notícia. Porque é isso que é importante, de fato, à sociedade que nos fez jornalistas.



Com esse rame-rame, essas questiúnculas em torno das fotos apagadas, estamos perdendo a oportunidade de mostrar, de documentar, por depoimentos ou matérias, a que ponto chegou a fragmentação do Estado brasileiro, neste momento específico, em decorrência do tráfico de drogas.



O que me interessa é o cotidiano de medo, de terror, de absoluta falta de direitos em que vivem os moradores desses locais.



Como é que almoçam? Como é que jantam? Como é que sobrevivem? Como é que se fecham em casa e a que horas se fecham em casa? O que podem e o que é que não podem fazer, devido ao poder exercido por essa bandidagem? O que pedem? A quem rezam nessas horas?...



É disso que a sociedade precisa saber.



É isso que vai fazer com que as pessoas tirem o bundão gordo do sofá em que assistem às novelas da Globo, para que exigir do Estado aquilo que lhe compete fazer.



Ou seja: restabelecer um mínimo de democracia nesses guetos.



Porque é aí que está a raiz de toda essa polêmica: a inexistência de democracia nesses locais, que vivem submetidos ao poder de hordas, em pleno século XXI.



Se houvesse ali democracia, tenham certeza, companheiros, nenhum jornalista seria impedido de ali entrar e trabalhar.



No máximo, seria xingado, por um ou outro descontente – mas isso, também, é democrático...



O problema é nos projetarmos como os únicos ofendidos.



Quando, na verdade, as ofendidas, em tudo isso, são a sociedade e a democracia brasileiras.




FUUUIIIIIII!!!!!!!!

Um comentário:

Anônimo disse...

Em Angico tiveram que envenenar o bando de Lampião pra matar, senão ele nao seria dizimado tao facilmente... e foi numa area de fronteira, houve uma coordenação de forças de varios estados... Sobre os jornalistas, eles vivem dos crimes praticados pelos traficantes. Se acabar, vao vender jornal? Duvido muito...