quarta-feira, 13 de agosto de 2008

festa10


Festa no Meu Apê X




(Abrem-se as cortinas. O salão está completamente diferente; parece uma birosca do interior. Todos estão vestidos como dançarinos de carimbó. Espalhados por três ou quatro mesas rústicas, bebem, fumam, conversam. O Jujuba é o barman. Numa mesa grande, no canto esquerdo, estão o Barão, o Sudão, o Tirésias, a Correspondente, a Barbie Princesa, o Balloon e a Beijoca, que continuam a brincar de Banco Imobiliário. No alto das escadarias, há um grupo de músicos de carimbó; no centro do palco, os dançarinos. Eles cantam e dançam uma seleção de músicas do CD “O Canto das Águas”, da Fafá de Belém: “Chama Verequete, ê ê ê ê/Chama Verequete ô ô ô ô/Chama Verequete, ruuuum/Chama Verequete!”/; “Ogum balailê, pelejar, pelejar/Ogum, Ogum, tatára com Deus/Guerreiro Ogum, tatára com Deus/Papai Ogum, tatára com Deus”/;“Umbora pra Salinas, agora, é o Peru do Atalaia!”... O peru tá pulando, xô peru!/Ora pula peru, xô peru!/O peru tá rodando, xô peru!/Ora roda peru, xô peru!/Tatá, tatá...”; “Eu sou a sereia do mar/Tava deitada na areia/Tô ouvindo teu cantar/O carimbó é muito quente/Da cintura pra baixo eu sou peixe/Da cintura pra cima eu sou gente”...



(Palmas)




(Foco na mesa em que estão o Barão, o Sudão, o Tirésias, etc... A Beijoca é a banca; a Correspondente, a “apontadora”; o Balloon, o “apitador”).




_Pííííííí!...
_ (a correspondente): Ô asseu Sudão, o asseu Balloon apitô que é falta!...
_Mas como?!!! Se eu ainda nem joguei, certo? E desde quando é que tem falta em Banco Imobiliário, não é isso?
_Acredo, asseu Sudão, que o sinhô só assabe arreclamá, é?... Tá aí apor cima do jabazão, mas, mermo assim, inté aparece um filhote de pipira!... Aescritinho, como adiria o asseu Napoleão, um filhote de pipira, muito do asseu amofinado, no alto da pirâmide de Agizé...
_Mas eu só estou dizendo, certo?, que ainda nem joguei e que nunca ouvi falar de falta em Banco Imobiliário, não é isso?...
_Pois é esse o asseu problema, asseu Sudão: o sinhô vive aquerendo amandá no jogo!... O sinhô num aconcordô que o asseu Balloon havia de sê o apitadô?
_Mas eu nem joguei, não é isso?...
_Mas tá impedido assim mermo!...
_Us pobrema, cabuca, é que os lordi Sudão pensarem que serem zissu e zaquilu... Mas, si a genti vimus bem, cabuca, ó, ó!..., os cabucu num puderem nem jogarem!... Purque serem tudus uns pincolé de bunfunfa!... Ó, ó!..., uns pincolé de bunfunfa!...
_Confesso, meu caro lorde Tirésias, certo?, que depois dessa sua, como direi, genuína linguagem oracular, não é isso?, não me resta alternativa a não ser esperar... Afinal, como diria Napoleão, no alto do seu reluzente Bucéfalo, “a vida é como um rio que sempre conduz ao grande mar!”...
_Me desculpe, caboco, mas Napoleão nunca disse isso...
_Pííííííííííííí!
_O que foi isso, caboca?
_É que o asseu Balloon tá apitando que o sinhô também atá impedido, asseu Barão!
_Como assim, caboca?
_E eu que assei? Só atô arretransmitindo o asseu Balloon, ué!...
_(...)
_Aperem lá, que o asseu Balloon tá aquerendo assoprá nos meus zuvidus! Sim, asseu Balloon, adigue lá!...
_(...)
_Num abrinque, asseu Balloon!...Mas o sinhô atem certeza?
_(...)
_Ulhe, ulhe, que eles num avão agostá anada disso!...
_(....)



(Os jogadores cercam a correspondente e perguntam o que é que o Ballon cochichou)



_Assilêncio! O asseu Balloon atá dizendo que o sinhô, asseu Barão, e o sinhô, asseu Sudão, atão expulsos de campo por amau acomportamento.

(Forma-se a confusão. O Barão e o Sudão protestam, falam alto; xingam o Ballon e a correspondente.)

_ (a correspondente) Se acalmem, se acalmem, mais é!... Os dois, já!, achispem daqui!...Aporque, agora, só quem apode ajogá é a dona Barbie, o asseu Tirésias, a dona Beijoca e o lorde Zangado!..
_ (O Sudão, aflito) Mas como, você não convidou esse meu parente problemático, não é isso?
_Ué, asseu Sudão, mas aclaro que aconvidei!... Aliás, aolhe ele ali, na entrada do Ap!...




(Jogo de luzes, chuva de confetes brilhantes, fumaça sobe do chão. O lorde Zangado está vestido que nem o Sidney Magal - calça bem apertada, em tecido colante, camisa semi-aberta; a roupa é branca. Tem de ter, também, correntes douradas, no peito e nos pulsos, e uma grande rosa vermelha na lapela. Ele está no alto da escada e vem descendo, lentamente, ao som da música. No centro do palco estão oito zangaietes, de corpetes vermelhos e rendados, meias rendadas e cintas-ligas; cabelos longos e soltos. Eles dublam e dançam “Meu Sangue Ferve por Você”: “Teu, todo teu/Minha, toda minha/Juntos, essa noite/Quero te dar todo meu amor/Toda minha vida/(siiiiimm)/Eu te procurei(nanananana)/Hoje, sou feliz, com você que é tudo o que sonhei/Ahhhh, eu te amo/Ahhhh, eu te amo, meu amor/Ahhhh, eu te amo/E o meu sangue ferve por você (bis)/Você me enlouquece/Você é o que quero/Eu sou prisioneiro/Prisioneiro desse seu amor/Toda Minha vida/(sim sim sim sim)/Eu te procurei/Hoje, sou feliz, com você que é tudo o que sonhei/ Ahhhh, eu te amo/Ahhhh, eu te amo, meu amor/Ahhh eu te amo/E o meu sangue ferve por você (bis).


(Aplausos)




_Você me desculpe esse triste espetáculo, certo? É excesso de testosterona, não é isso?
_Ué, mas pra que se adesculpá, asseu Sudão? Pois se afoi um show atão bonito, ué!...
_Você nem imagina, certo?, as dores de cabeça que esse rapaz me dá, não é isso?... Como diria Napoleão, ele ainda será o meu Waterloo, certo?... O meu Waterloo!...
_Num abrinque, asseu Sudão!...
_(puxando a correspondente para o lado): Esse rapaz, certo?, sempre foi complicado... É um grude, um verdadeiro grude, não é isso?...
_Assério, asseu Sudão?...
_ Por causa dele eu virei quase que um saltimbanco, não é isso?... Morei na Cidade Velha, na Pedreira, no Jurunas, na Sacramenta, na Terra Firme, na Matinha, em Batista Campos, na Jabatiteua... Até no Vale do Amanhecer eu fui parar, não é isso?, até no Vale do Amanhecer!... E quando eu via, lá estava esse rapaz, numa parada de ônibus perto da minha casa... E ficava dando piteco em tudo; e era tio pra lá, tio pra cá... E me filava o café da manhã, almoço, jantar... Eu não podia nem traçar uma empadinha, não é isso?, que lá vinha ele, gritando: “ei tio!, tio!, me deixa fazer uma boquinha”...
_Acredo, asseu Sudão!...Mas acomo que o sinhô adeve de atê assofrido, né mermo?...
_Um verdadeira provação, certo?, uma verdadeira provação!...Além de tudo é um rapaz dispendioso, não é isso? Adora um palco, umas luzes!... Não que eu seja miserável, certo? Como diria aquele grande poeta: “quem me conhece sabe que as minhas mãos são até mais largas que este meu incomensurável coração!”...
_Égua da coisa alinda, asseu Sudão!...
_Ah, você gostou, é?...
_Ô ômi, adeixe de amoda, mais é!...Aprossiga!...Aprossiga!...
_O problema, certo?, é essa minha essência franciscana, não é isso?... Porque a vida me ensinou a não ficar me jactando, certo?, de comer essa ou aquela empadinha... Aliás, há toda uma técnica para a gente traçar uma empadinha, não é isso?...
_Assério, asseu Sudão? E como é que é que o sinhô afaz?
_É simples!... Eu vou lhe mostrar! (o Sudão, cochichando a um garçom: “Por favor, me arranje uma empadinha!” O garçom traz a empada. O Sudão agradece, pergunta pela mãe e pela mulher dele. O garçom pede um favor ao Sudão, que manda um assessor atendê-lo. Depois, vai comendo e explicando). Primeiro, você tem de ver que o segredo é a gente comer bem devagarinho, certo?, sem grito, não é isso?... A gente começa pelas bordas, certo?, e vai medindo o tamanho da mordida... E não fala enquanto come, que é pra não deixar por aí algum DNA... Aí, a gente pega num guardanapo (tirando um pano velho e furado do bolso) e limpa bem a forminha... Depois, é só colocar no primeiro bolso que passar... Eu lhe garanto, certo?, que não sobra nem farelo...
_Zissus são tudus lári-láris, cabuca, tudus lári-láris!...
_Ué, o que é que afoi, asseu Tirésias, o sinhô num agostô da técnica do asseu Sudão?
_Cabuca, os lordi Tirésias é qui si vai mostrarem cumu serem qui as genti detonemus essas tar di zimpada (O Tirésias, gritando no meio do salão: “Psiu! Psiu! Ô sumanu!... Erem, erem tusaírem!...”. O garçom traz uma bandeja de empadas e o Tirésias pega um bocado. Mete algumas nos bolsos das calças e da camisa e fica com quatro ou cinco nas mãos). A genti num pudemus perderem a pespetiva, cabuca!... Primeiru, a genti zispiulhemus pruns ladu e zispiulhemus pruns zotrus, que é pra verem si num tens piaba zispiulhandu!... Aí, a genti punhemus uns desivus em cima das zimpadas, cabuca, que é pra aparecerem uns brigadeirus. Aí, a genti punhemus as mardita tudus nas buca, ó, ó... E vamo cumendu, e vamo cumendu, tudus rapidola, cabuca, tudus rapidola!...
_Égua, e o que é que o sinhô afaz com os farelos?
_A genti deixemus tudus puraírem, cabuca!...
_Ué, e se as piabas apegarem o rastro?
_Num apegam, cabuca, num apegam... Purques a genti peguemus nessis pirulitu, ó, ó (tirando um monte de pirulitos do bolso) e atiremus tudus pras galera, que é pras piaba num falarem maus das genti...
_(o Barão): Ô cabucu, mas pareci, intoncis, que a genti num aprendemus nadas com as genti, nés, cabucu?
_(O Sudão, para a correspondente): Você há de convir, certo?, que essa será uma interessantíssima lição de metalinguagem, não é isso?
_(O Barão): Us cabucu, us cabucu, num aliguem prus lordis Sudão, que eles serem tudus uns pincolé de bunfunfa, cabucu!...
_(o Tirésias): Pois intoncis, cabucu, a genti num dissemus issus adesdi us cumeçu, cabucu? (Pro Sudão: Pincolé de bunfunfa!...Pincolé de bunfunfa!...)
_(o Barão, acalmando o Tirésias): Intoncis, cabucu, intoncis! Purques a genti falemus pra genti e a genti prus lordis Tirésias que a genti não aceitemus essas tar di purvurcação, cabucu!
_Intoncis, cabucu, a genti mandemus essis purvucador lá pras zaqueli lugarem, cabucu!
_Mesmu assim, cabucu, a genti tenhemus de aprenderem como serem que se comerem essas tar de zimpada!... A genti num punhemus tudus nas boca, cabucu!... Assinão as piaba levarem as genti tudus prus PEM!...
_Não, cabucu, os PEM não!... ( se escondendo debaixo de uma mesa)
_(O Barão, indo buscá-lo) Pois, intoncis, cabucu... A genti vamos verem, di nuvu, cumu serem qui si acomerem essas tar de zimpada (o Barão, no meio do salão, educadamente, para o Jujuba, o Duzinho e o Príncipe Clean: cabocos, vamos degustar uma empadinha!...)



(Jogo de luzes. Entra um grande coral de mendigos, que fica no hall, no alto da escadaria. Mais no alto, ou embaixo, uma orquestra já está pronta. O Balloon corre de um lado para outro e se coloca no centro do palco, para reger o coro e a orquestra).



(Enquanto isso, o Jujuba vem do bar, já colocando um avental branco e um chapéu de cozinheiro e ajuda a arrumar, no centro do palco, uma moderna cozinha. O Jujuba, é claro, fica atrás do balcão. O Clean é o ajudante. O Duzinho, uma espécie de Lombardi. O Barão senta junto do Jujuba e do Clean, num banquinho...).



O coro ataca (e interpreta) a versão “Brejense” da valsa de “A Bela Adormecida”, de Tchaikovsky, com grandiosa introdução e tudo: “Foi você o sonho tão lindo que eu sonhei/Foi você, me lembro tão bem/Que foi o sonho mais lindo que eu sonhei/Com muita bufunfa pra gastar/E a merenda de sobra roubar!/E inda tinha lixo para eu faturar!/E inda tinha lixo para eu faturar!E ganhar dinheiro pro meu caviar!/E inda tinha lixo para eu faturar!/E até caboco para enrolar/E até macumba para eu rezar/E fazer promessa no meu patuá/E inda tinha lixo para eu faturar!/E inda tinha lixo para eu faturar!/E até caboco para enganar/E até bufunfa para traficar/E até criança para eu afanar/Sem um Delegado pra incomodar!/Foi você o sonho tão lindo que eu sonhei/Foi você me lembro tão bem/Daqueles dias na nossa Inhangapã/Quando a gente contava o larjan/Com muito scotch e obra/E o caboco na roda/E era terra de sobra/Na lama de Inhangapã!/Pão-pão/Pão-pão/Pão-pão/Pão-pão/Pão-pão/Pão-pão/Pão-pão/Pão-pão/Pão-pão
Pão-pão/Pão-pão/Pão-pão/PÃO!/PÃO!




(Aplausos)




_(Valsas em BG; o Jujuba): Bon soir, mons amis e mis amigás. Hojê, vamôs aprrenderrrr a confecionarrrr an nová e extrraorrdinárrria receitá: “petite empadô a la mode du ...” S'il vous plaît, atentê para o bicô: du!... Repetê, s’il vous plaît!...Du... (a platéia repete) Du... (a platéia) Duuuu... (a platéia)... Très bien!... Aplausê, aplausê!... Comô eu estava dizendô, hojê vamôs aprrenderrr a confecionarrrr an petite empadô a la mode du Brrejô!.. E temôs, hojê, conoscô an convidadô muitô especialô: o nossô querrridô Barrron du Inhangapã, an aclamadô experrtise an petite empadô!... Bon soir, Barrron! Ça Va!... Bien, bien!...Aplausê, aplausê!...
_Boa noite, Jujuba! Boa noite, minhas senhoras e meus senhores, meu povo querido deste Novo e Extraordinário Brejo, que é a nossa casa, o nosso lar! (Súbito, uma das pernas do Barão começa a tremer...)
_Quesquê cê, mon ami?
_Na-da...Na-da... É só essa minha perna rebelde!... (O Barão se impacienta e bate e bate na perna; primeiro, com as mãos; depois, com uma escumadeira. E diz: fica quieta!... Fica quieta!...)
_(O Jujuba, sem perder o savoir-faire): Diletô Duzinhô, quesque cê prrecisô parrrá confecionarrr an petite empadô a la mode du Brrejô?
_(O Duzinho, como o Lombardi): Aí, Jujuba!... Aí, titio!... Para fazer uma empadinha arretada à moda do Brejo vocês vão precisar de:



50 quilos de bufunfa bem lavada.
50 juízes e bons advogados, Jujuba!
Cinco mil quilos de jornais!
Trinta e cinco deputados e, pelo menos, dois senadores.


Além disso, Jujuba, é preciso adicionar uma boa pitada de marketing, para a massa encorpar.


Tempo de cozimento: pelo menos uma década!


E, muito importante, minha amiga: nem que venha o Apocalipse, abra o forno durante a cozedura!


É com você, Jujuba!!!!




_(O Barão continua espancando a perna com uma escumadeira; o Jujuba): Bien, mons amis, agorrrá o nosso amadô prrríncipe Clean falarrrá sobrrrê a prreparraçon du nossôs ingrrredientês... (Depois, perdendo a calma com o Barão, tira a escumadeira da mão dele, dá-lhe umas porradas na cabeça e grita: Aquietê!...Aquietê!...Aquietê!... Os dois caem e se engalfinham atrás do balcão...)



_O Clean: Brother, o negócio é o seguinte: A primeira coisa é lavar muito bem a bufunfa, sacou? (mete as folhas de bufunfa debaixo da água)....E ter muito cuidado na escolha de quem vai ajudar nessa lavação!... E se vocês estiverem sem grana, por favor, brothers, não peçam emprestado, porque isso dá um rolo de morte!... Tenham cuidado, também, com esse negócio dos juízes e dos deputados que vão remexer a bufunfa.... Dispensem aqueles que ficam berrando no telefone: “quando é que vão molhar o pé da planta? Quando é que vão molhar o pé da planta?”... E regateiem o preço, brothers, porque eles vivem rezando para a gente comprar... Quanto aos jornais... Bem, brothers, verifiquem, primeiro, a qualidade dos jornalistas: se sabem, ao menos, escrever o nome... Mas, não percam muito tempo com eles, nem com os jornais: a gente compra tudo na viração, sacou?... E se vocês tiverem alguma dificuldade nessas operações, mandem uma carta para a Gazeta de Arribação, dizendo: eu também quero lavar uma bufunfa!...É com você, Jujuba!...



_(O Jujuba, se levantando, esbaforido): Merci, majestadê!...



(Nisso, chega a Beijoca, também com um avental branco e chapéu de cozinheiro)



_ (O Jujuba, tomando-a nos braços): ma chérie!...



(E é claro que ela deixa...(afinal, que mulher resistiria ao “íssimo” Jujuba, né mermo?...) Mas, nisso, a Beijoca vê o Barão, que também se levantou, e se treme, agora, da cabeça aos pés...)



_(A Beijoca): Ué, o que foi que houve com o Barão?
_(O Jujuba recoloca a Beijoca de pé e olha para o Barão... E, tomado por uma fúria assassina, avança na direção dele): Aquietê!...Aquietê!...Aquietê!...



(Os dois caem, novamente, para detrás do balcão)




_ (O Clean): Seja bem-vinda, sister! Que bons ventos a trazem a nossa humilde cozinha?
_Caboco, confesso que estou encantada com essa receita de vocês! Pelos ingredientes e pelos cozinheiros, caboco, essa nova e extraordinária empadinha vai revolucionar a cadeia produtiva do Brejo!...Mas, o que eu achei irresistível foi essa bufunfa...Como é que você consegue deixar a bufunfa tão branquinha?!!!...
_Ora, sister!...Isso são anos e anos de prática, sacou?...
_Mas eu também lavo bufunfa há anos, caboco!...Só que a minha bufunfa nunca fica tão limpinha...Olha só, nem parece que é bufunfa!...
_Ora, sister!...Lavar bufunfa é uma arte!...Requer sensibilidade, dedicação, paciência, criatividade!...Enfim, um verdadeiro amor à causa!...
_Mas você coloca alguma química na bufunfa, caboco, pra tirar toda aquela sujeira?
_Não, não, sister!...Tudo é bem natural!...Aliás, quanto mais natural a lavagem, mas limpa a bufunfa fica parecendo, sacou?...
_Então, eu não estou entendendo mais nada!... É que toda vez que a gente se mete a lavar bufunfa, acaba dando um angu de caroço...E aí todo mundo fica dizendo que a gente é incompetente até pra lavar a bufunfa!...
_Sister, ó sister!...Como você está genuinamente interessada, eu vou lhe contar um segredo... Essa bufunfa ficou assim tão limpinha porque vem sendo lavada há anos, sacou? Aqui, eu só finalizei o processo... Porque, também, não se pode ficar ensinando isso a todo mundo, sacou?...Vai que os nossos espectadores também resolvam lavar uma bufunfa?... Aí não vai ter bufunfa que chegue, sister!...
_Ô caboco, e onde é vocês lavam tanta bufunfa?
_Bem, sister, lá em Inhagapi nós temos uns tanques enormes... E a gente trabalha em equipe, sacou?, porque bufunfa que é bufunfa tem de ser lavada a várias mãos... Assim, o Duzinho ajunta a bufunfa, o Barão esfrega, eu lavo e torço e o Jujuba inventa as receitas, sacou?... Aliás, só quem lava melhor a bufunfa é o lorde Sudão, que montou uma linha de produção moderníssima... Coisa de Primeiro Mundo, sister!... A gente fica babando diante daquela lavagem poderosa de bufunfa, todo santo dia, 24 horas por dia, 30 dias por mês, 365 dias por ano – e 366, nos anos bissextos!...
_Ah, é? Então eu acho que vou pedir ao lorde Sudão pra me ajudar a lavar uma bufunfa...
_O que é isso, companheira?... Tá certo que o nosso processo é artesanal e tem menor rentabilidade... Mas, pelo menos, não tem risco de a bufunfa congelar, sacou?
_Sério, caboco? A bufunfa do lorde Sudão congela, é?
_De vez em quando, sister, ela vira, a bem dizer, um prosdócimo!...Agora mesmo, parece até uma Era Glacial!...
_Mas, então, como é que eu faço, caboco?
_Se você me permite, sister, eu tenho aqui um contrato da minha empresa: a “Limpatu Business Inhangapienses S/A”. É um contrato com a duração de doze anos!... E a capacidade de aumentar, de forma inesquecível, a produtividade de todas as cadeias do Brejo!...
_E como é que isso funciona, caboco?
_ É muito simples, sister!...A gente fica com o lixo e devolve a vocês a bufunfa limpinha e reciclada...
_Sério, caboco? E onde é que eu assino?




(Nisso, o Barão e o Jujuba se levantam. Chegam, também, o Sudão, o Duzinho, o Tirésias e o lorde Zangado, todos com aventais e chapéus de cozinheiros. Sobe o Can Can, de “Orfeu no Inferno”, de Offenbach. Todos dançam, à frente, com a Beijoca no meio. Atrás, todo o elenco também dança...)




(continua)

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