segunda-feira, 3 de novembro de 2008

tabuleiro 2




Publico a segunda matéria da série. Volto logo mais ou amanhã, com a terceira.







O tabuleiro de 2010- II




Tucanos, camaleões e outros bichos


“A análise de uma eleição não pode ser, apenas, quantitativa: tem de ser qualitativa” – ensina um cacique do PMDB – “É preciso ver quem é quem, para fazer uma projeção para 2010. Muitas pessoas que estão no PT e no PR são tucanos enrustidos, prontinhos para retornar ao ninho, caso o Jatene e o Serra ganhem projeção”.


“Há muito prefeito camaleão aí” – ecoa um deputado do DEM – “Mas não é camaleão no sentido pejorativo: é gente que teve de mudar de cor por uma questão de sobrevivência, mesmo, para fugir à estadualização das eleições. Gente que migrou para partidos neutros, como o PR, o PMDB e o PDT, para ficar fora desse foco, dessa polarização, dessa ira do PT e do PSDB”.


Tanto o líder peemedebista, quanto o deputado dos Democratas têm razão: muitos prefeitos eleitos ou reeleitos nestas municipais têm antigos e consistentes laços com os tucanos.


E esse é outro dado a demonstrar, juntamente com o fraco desempenho nos 18 municípios mais importantes do estado, que o PT tem razões de sobra para se preocupar com o tabuleiro estadual de 2010.


E é, também, o tipo de informação que só pode ser “garimpada” quando a análise ultrapassa a fria matemática global. E se aprofunda, como ensina a raposa peemedebista, na qualidade, no “quem é quem”, dos prefeitos eleitos pelo PT e pelas legendas que integram a base de sustentação dos governos federal e estadual.


Pior (para o PT, é claro!): muitos desses “prefeitos camaleões” ou “tucanos enrustidos” são verdadeiras máquinas de votos.


O que, em tese, poderá até protegê-los da “ira” petista, nos próximos dois anos.


Afinal, que senador ou deputado não se mostrará solícito com esses titãs municipais, que podem alavancar a reeleição de vários proporcionais?


Daí a dúvida: por que não dar a cara desde já? Ou será que a estratégia tucana é, justamente, a de se fingir de morto?


Talvez, até para ver como ficará, de fato, o cenário nacional, que será determinante para os tucanos paraenses, sob dois aspectos.


O primeiro é a alavancagem de uma candidatura estadual, através de uma “onda amarela”, oriunda dos impactos da crise mundial sobre a economia brasileira e da incapacidade petista de assegurar um sucessor “vermelho” para o presidente Lula – que, aliás, sempre foi maior que o PT...


E que, ao contrário do que se supunha, também não possui uma capacidade “mágica” de transferência de votos – como demonstram os resultados eleitorais de algumas das maiores cidades brasileiras.


O segundo aspecto é para lá de objetivo: dinheiro, financiamento para o caixa de campanha.


E dinheiro suficiente para contrabalançar o poderio das máquinas federal e estadual, hoje nas mãos dos “vermelhinhos”...




Os casos antológicos




“Muitos desses prefeitos eleitos não são estranhos ao ninho tucano. Muito pelo contrário: aqui se acasalaram e até geraram filhotes” – brinca um emplumado “amarelinho”.


Há exemplos gritantes de prefeitos eleitos ou reeleitos que, embora integrem partidos da atual base de sustentação petista, como é o caso do PR e até do PMDB, possuem indisfarçável “tendência tucana”.


E, o que é pior (novamente para o PT, é claro!) têm ou terão sob o seu comando grandes colégios eleitorais.


Veja-se o campeoníssimo Hélio Leite, reeleito, em Castanhal (que tem mais de 97 mil eleitores), com 77,43% dos votos válidos – proporcionalmente, uma das maiores votações do país e uma surra acachapante tanto no PT, quanto no PMDB, que tiveram candidatos próprios naquele município.


Hélio se elegeu prefeito, em 2004, pelo PMDB. Mas, brigou com o partido para apoiar os tucanos. Seu vice, é verdade, é do PR. Mas, PSDB e DEM integram a coligação que o reelegeu.


Quer dizer: se a relação dele com os petistas já não era assim tão bacana, o que dizer agora?


“O Governo do Estado fez promessas mirabolantes para o Hélio, quando ele foi para o PR” – confidencia um político do DEM – “A intenção dele (Hélio) era voltar ao PMDB. Mas, o PT o assediou muito para que se filiasse ao PR, porque seria ‘muito bem atendido’(com verbas, é claro). Mas, nada disso aconteceu”.


E prossegue a fonte do DEM: “Para completar, PT e PMDB lançaram candidatos próprios, em Castanhal, que se mostraram verdadeiros fracassos, diga-se de passagem. Mas, até a última hora, o PT fez uma pressão enorme para dar o vice do Hélio, sempre com promessas mirabolantes”.


Segundo o parlamentar, promessas semelhantes foram feitas pelos petistas a outros prefeitos e candidatos que também migraram para PR. “Eles prometeram tudo: asfalto, verbas. Mas, esse pessoal (do PT) não é muito bom de honrar compromisso”, observa.


Mais um exemplo: Eslon Martins, outra máquina de votos do populoso Nordeste paraense.


Eslon foi candidato a prefeito de Capanema, em 2004, pelo PMDB.


Perdeu as eleições e acabou saindo do PMDB, quando decidiu apoiar Almir Gabriel, para o Governo do Estado, em 2006.


Agora, Eslon foi eleito prefeito, pelo PR, com 63,23% dos votos válidos de Capanema (que tem mais de 45 mil eleitores).


Na eleição, teve o apoio das figuras mais expressivas do tucanato paraense (Jatene, Mário Couto, Flexa Ribeiro) e derrotou, com uma chinelada, o candidato do PPS, que era apoiado pelo PT e pelo PMDB. A prefeitura de Capanema, aliás, estava nas mãos de Alexandre Buchacra, do PT, que nem concorreu à reeleição devido à altíssima rejeição.


Outro exemplo: Roselito Soares, que se reelegeu à Prefeitura de Itaituba (mais de 63 mil eleitores) com 42, 35% dos votos válidos.


Em 2004, Roselito se elegeu prefeito pelo PSDB. Depois, acabou migrando para o PR, por onde, agora, se reelegeu.


Teve contra si dois candidatos: um do PMDB, outro do PT. E foi apoiado, sintomaticamente, pelo PSDB e pelo DEM.


Mais um exemplo: Maurino Magalhães, também do PR, que se elegeu prefeito de Marabá (mais de 122 mil eleitores), com 49,79% dos votos válidos.


É verdade que o PMDB também (e porque é inteligente) apoiou a eleição de Maurino, como lembra uma liderança peemedebista, até retirando a candidatura de Asdrúbal Bentes.


Mas, Maurino teve como um de seus maiores cabos eleitorais, desde os primórdios de sua candidatura, a deputada estadual Suleima Pegado, do PSDB. E talvez tenha sido esse um dos fatores a contribuir para que os tucanos não embarcassem de mala e cuia na campanha do deputado João Salame, do PPS – que terminou em segundo lugar, na disputa pela prefeitura de Marabá.


“O Almir (o ex-governador Almir Gabriel) fez, inclusive, declaração de voto para o Maurino” – recorda um tucano – “E o próprio Tião Miranda (o atual prefeito de Marabá, que foi o maior eleitor de Maurino) também apoiou o Jatene, em 2002”.


Também em Marabá, a performance petista foi um fiasco: o partido insistiu na candidatura da deputada Bernadete Ten Caten, apesar do PR integrar a base aliada.


Resultado: Bernadete acabou amargando um terceiro lugar – em que pese ser petista da gema e o partido ter, portanto, todo o interesse na sua eleição.


Mais um exemplo: Wagner Fontes, do PTB, que se elegeu prefeito de Redenção (47.767 eleitores), com 59,30% dos votos válidos.


Wagner é outro integrante da “base aliada” dos petistas que possui ligações estreitas e antigas com os tucanos.


E essa relação, aliás, ele nem faz questão de esconder: seu vice é do PSDB.


Mas, também no grupo de 34 municípios médios paraenses, que detêm mais de hum milhão de eleitores, há indisfarçáveis “camaleões”.


É o caso, por exemplo, de João “Piloto” Filgueiras, que se elegeu prefeito de Alenquer pelo DEM, com 38,41% dos votos válidos – e que foi prefeito da cidade, em 2000, pelo PSDB.


Ou de Amós da Silva, de Augusto Corrêa, que se reelegeu, agora, pelo PMDB – mas que foi eleito, em 2004, pelo PSDB – os tucanos, aliás, integraram a coligação que o reconduziu ao poder...


Ou de Edimauro Farias, reeleito prefeito de Benevides pelo PR, com 35,43% dos votos válidos – mas que se elegeu, em 2004, pelo PSDB.


Ou de Francisco Braga, que se elegeu em Mãe do Rio, pelo PR, com 38,02% dos votos válidos, com o apoio do DEM, PSDB e PV e sucedendo a Antonio Rabelo, que foi prefeito da cidade por dois mandatos consecutivos, o último deles pelo PSDB.


Ou de Luiz Gonzaga, de Oriximiná, outra máquina eleitoral: teve 72,79% dos votos válidos.


Gonzaga já foi prefeito de Oriximiná pelo PMDB, no ano de 2000.


Mas, mesmo naquela época, já era até mais tucano do que muitos integrantes do PSDB.


Sucede Argemiro Diniz, do PSDB. E retorna ao comando da prefeitura pelo PV, em coligação com o PSDB, DEM , PP e PR.


E no alto de uma chinelada histórica, no PMDB e PT, a “dobradinha” da chapa de oposição.


Outro exemplo é Jardel do Carmo, que se elegeu prefeito de Monte Alegre com 51,20% dos votos válidos.


Agora no PMDB, Jardel já foi prefeito da cidade, pelo PSDB, no ano de 2000.


E talvez seja por isso que o ressabiado PMDB decidiu garantir, em Monte Alegre, também a vice-prefeitura da cidade...

3 comentários:

Anônimo disse...

Sua avaliação esta estremamente tendenciosa para o lado amarelo!
Uma correção: ao contrario do que voce diz, tião miranda não foi o maior eleitor de maurino! Ele foi o maior adversário, gastou mundos e fundos para tentar eleger o Salame que era o seu candidato assumido!

Anônimo disse...

Muito bom o comentário, Ana, mas está faltando algo. Só ouviste os caciques do PMDB e revelas estudo do PSDB, duas forças incontestes da política estadual. Mas cadê o PT, a outra força política mais importante do Estado? Creio que também tens acesso aos caciques petistas que poderiam dar uma outra visão da análise que limitas a uma pequena referência, quase com desdém. Fica aí a sugestão que poderia, na minha opinião, enriquecer mais ainda a tua análise.

Ana Célia Pinheiro disse...

Queridinhos:

Tenham calma, ok?

Ainda vai entrar o material do PT, assim como mais material do PSDB e do PMDB e do PTB, além de análises de cientistas sociais e de um advogado - e, se possível, do MP.
Infelizmente, como já disse, acabei recolhendo material demais e agora estou meio que enlouquecida para ir escrevendo, de forma lógica, enquanto, também, cuido de algumas questões pessoais.
Especificamente no caso do PT: a matéria será de uma boa fonte que tenho lá, porque, desde a sexta-feira aguardo resposta do diretório regional do partido.
Na sexta-feira, telefonei para o presidente estadual do PT, mas, ele estava em reunião e não pôde me atender.
Deixei recado e número de telefone - inclusive celular e residência.
Vou, é claro, insistir mais uma vez.
Mas, não posso passar o resto da vida atrás dos dirigentes do PT, né mermo?
Bjs,

Ana Célia