sexta-feira, 8 de maio de 2009

Entre Tapas e Tapas




I



Amigo me pergunta o que achei desse tal rompimento do PMDB com o PT.



Explico-lhe que não tenho acompanhado o caso, ando meio afastada de política, até porque estou até o pescoço de tarefas pessoais, para ajeitar minhas coisas e definir, afinal, o que vou fazer da minha vida.



Digo-lhe, no entanto, que, apesar de todo o escarcéu, tal rompimento não me parece “crível”, nesta altura do campeonato.



Por um fato simples, que deve ser cristalino até a um vereador de Curralinho: ainda é cedo demais para que um partido passado na casca do alho, como é o caso do PMDB, decida o que fará numa eleição que só acontecerá daqui a um ano e meio.



Lembro de uma entrevista que fiz com o deputado Jader Barbalho, há uns meses, em que ele observava que política é como nuvem: você olha agora, está de um jeito; logo mais, de outro.



E Jader, como diria a minha mãe, é um sujeito que “dá nó em pingo d’água”. Quer dizer: sabe que é cedo demais para uma atitude desse tipo, quando nem a melhor pitonisa é capaz de prever o cenário local e nacional de 2010.





II



Pelos resultados eleitorais do ano passado, sabe-se que Lula não transfere votos automaticamente – fenômeno, aliás, dificílimo de concretizar.


Mas, além disso, pouco ou nada sabemos.


Não sabemos, por exemplo, o peso do candidato petista à sucessão presidencial; se, com o tempo, conseguirá ou não se credenciar a essa disputa.


Temos, neste momento, que será Dilma a candidata de Lula. Mas, será de fato? E, se for, quem garante que não conseguirá decolar?


Afinal, Dilma é uma “companheira” disciplinada, que vem cumprindo à risca o figurino modelar de candidata – até a uma “guaribada” no visual já se submeteu...


Além disso, estará “montada” nos milhões do PAC, da Bolsa-Família, dos programas habitacionais e, principalmente, na extraordinária máquina que é a militância petista, que detém quase que o monopólio dos movimentos sociais.


Outro problema é que se Dilma não decolar, isso não significará, automaticamente, a certeza de derrota dos petistas.


Sempre poderá ser substituída por grandes nomes “vermelhos”, como é o caso do simpaticíssimo Antonio Pallocci.


E se nada disso der certo, ainda haverá a hipótese do terceiro mandato do “Nosso Guia” – a engraçadíssima alcunha carimbada em Lula pelo jornalista Élio Gaspari...


III


É certo que Serra está muito bem colocado na disputa pela Presidência e que os tucanos ainda dispõem de outra carta extraordinária para esse jogo: o governador de Minas, Aécio Neves, um menino novo, que, muito mais que Serra, é a “cara” das novas gerações de brasileiros.


Mas, em eleição o que prevalece não é a vontade deste ou daquele candidato ou as nem sempre críveis pesquisas de opinião.


O que prevalece, em verdade, é a vontade do eleitor. O cidadão que pode, hoje, achar Serra lindo e maravilhoso, quase que um “príncipe encantado”.... Mas que amanhã, por “n” fatores, inclusive o simples mau-humor, pode passar a odiar aquele “carecão”...


Se isso acontecer, o que se poderá dizer, em favor de Serra, é que não foi a primeira vez, em política, que um príncipe virou um sapo...


Ou, no caso de Dilma, que também não foi a primeira vez que um patinho feio se transformou num belo cisne...


IV


No meio de tudo isso – a empatia do eleitor, suas TPMs, seus medos e esperanças, seus melindres que fazem, por vezes, a “Roda da Fortuna” virar o jogo pelo avesso, do dia para a noite – há outra questão crucial: dinheiro.


E ponha dinheiro nisso, quando o assunto é eleição.


Quanto custará a eleição de 2010, à Presidência da República, ao Senado, à Câmara dos Deputados, aos governos estaduais e às assembléias legislativas?


E de onde virão esses milhões e milhões, para que os jogadores possam ao menos “bancar” o cacife inicial, num horizonte de crise ou pós-crise mundial e de “aperto” das regras de financiamento de campanha?


Ora, ainda no ano passado quando a crise era apenas um “murmúrio”, muitos empresários já se mostravam temerosos em contribuir nas campanhas eleitorais.


Tanto assim que, no conjunto dos candidatos, à esquerda e à direita, e à exceção dos muito ricos e dos prefeitos-candidatos que estavam montados nas máquinas públicas, a reclamação era uma só: a escassez de recursos.


Na época, o maior entrave às doações dos empresários eram os escândalos a envolver grandes empresas.


Hoje, esse entrave persiste, com maior vigor, talvez. Mas, a ele veio agregar-se outro obstáculo, tão ou mais complexo, que é a crise financeira.


Assim, apesar das recentes cassações de governadores, é justo supor que, à semelhança do que aconteceu no ano passado, haverá larga vantagem, em 2010, para quem já detém a máquina – com seus milhares de cargos, milhões em obras e em “propaganda institucional”...


Uma vantagem que será decuplicada caso o eleitor esteja “em paz” com o detentor da máquina.


Quer dizer: se achar que vai tudo muito bem e que a sua vida, de fato, está um bocadinho melhor.


V


A indefinição do quadro nacional e as dificuldades ao financiamento de campanha inviabilizam as definições locais, hoje, já.


Tanto assim que o que se pode observar, hoje, entre os grandes jogadores é um extraordinário “sapateado de catita”.


É verdade que há uns e outros gritando e “mandando bala”, em geral, de festim...


Mas esses não integram o seleto grupo dos comandantes, no qual a certeza, creio, é de que o horizonte ainda está muito nebuloso.


Até porque essas “raposas” – do PMDB, do PSDB, do PT, do PTB, do PR – sabem muitíssimo bem que um dia, em política, é como uma Era...


Portanto, o que dizer, então, de um ano e meio no futuro?


VI


Mas, vamos partir do suposto de uma “ruptura” do PMDB com o PT, hoje, já, como noticiam blogs e jornais.


Vamos supor que a “noiva” já não tolera o companheiro mandão, infiel e problemático...


Ora, para uma decisão tão grave, tão radical, é de se supor que a “noiva” já tenha amealhado recursos suficientes para o “regabofe” do ano que vem – sob pena de vir a chorar, copiosamente, “atrás da porta”...


Bom, a gente tem de admitir que essa “noivinha” – pra lá de espaçosa, neurótica e igualmente infiel e problemática – possui, de fato, um excelente pé-de-meia.


Afinal de contas, o PMDB detém várias prefeituras importantes, entre as quais Ananindeua, o segundo maior colégio eleitoral do estado; o extraordinário orçamento da Assembléia Legislativa e os poderosos caixas da Seop, Detran e Cosanpa.


E é preciso fazer uma ressalva, para o leitor que não acompanha muito de perto o quadro político: a Secretaria Estadual de Saúde (Sespa) nunca foi “cota” do PMDB no Governo, como, aliás, já disse o líder do partido na AL, deputado Parsifal Pontes.


A Sespa, desde o início do Governo, foi entregue ao ex-deputado Priante, que comanda um grupo personalíssimo dentro do PMDB.


Teria sido entregue, juravam os petistas à época, como espécie de “recompensa” à participação de Priante na vitória de Ana Júlia.


Mas, é bem mais provável que essa súbita benemerência tenha integrado, em verdade, uma estratégia desastrada do PT para criar uma alternativa a Jader, nas negociações com o PMDB.


O fato é que a Sespa era “cota” de Priante – uma cota tão particular que até no PMDB se ouviam queixas quanto à partição do bolo, naquela secretaria.


E, depois da saída de Halmélio Sobral, o secretário de Saúde indicado por Priante, o próximo ocupante do cargo se transformou numa “rainha da Inglaterra”, já que a chave do cofre foi colocada nas mãos de um petista.


Mas, apesar da Sespa, o PMDB deteve ou detém, efetivamente, organismos poderosos, em termos orçamentários.


Tais organismos podem ter lhe permitido, já a essa altura, amealhar dinheiro, ao menos, para o pontapé inicial da campanha.


Mas, tais recursos serão suficientes para o longo deserto que terá de atravessar, a um ano e meio das eleições?


E, mais ainda, quando terá de poupar dinheiro para a campanha ao Senado, que se advinha caríssima? (Ou terá Jader descartado o Senado, frente à certíssima reeleição à Câmara dos Deputados?)


Além disso, onde o PMDB acomodará, nesse um ano e meio, os inúmeros correligionários que estão aboletados na máquina estadual?


Como fará para manter seu grupo de comunicação, sem verbas oficiais, em meio a uma crise mundial?


E como sobreviverá, desde já, às tempestades decorrentes de um “festival de dossiês”, vazados pelo Governo aos seus arquiinimigos da imprensa local e nacional?


Só a influência de Jader, com o seu enorme telhado de vidro e dificuldade, no cenário nacional, para erguer a cabeça sem levar pedradas, será suficiente para evitar retaliações da República, em decorrência dessa ruptura?


VII


Como disse a esse amigo, creio que o rompimento, hoje, é muito improvável.


Pode até acontecer, caso esse brilhante jogador, que é Jader, esteja a contemplar, no horizonte, alguma coisa que nenhum outro jogador consegue visualizar.


Ou, ainda, que o velho cacique peemedebista, conhecido pela astúcia, rara inteligência e antevisão, tenha, simplesmente, surtado - como pode acontecer, aliás, a qualquer um...


Mas, desde já, é preciso considerar que esse “casamento” entre petistas e peemedebistas nunca foi exatamente um “mar de rosas”.


A lua-de-mel, se existiu, consistiu apenas de uns rápidos afagos. De forma que, há quase três anos, sobram pontapés, cada vez mais violentos, entre a “noiva” e o “maridão”...


Daí a aposta de que o rompimento acontecerá, mais cedo ou mais tarde – ainda mais quando, na arquibancada, há grande torcida para que isso ocorra o breve possível...


O problema é que há casamentos que se arrastam assim, entre tapas e tapas, durante anos, sem que um dos cônjuges cruze, finalmente, a linha de partida.


E se isso é verdade em nossas casas, mais verdadeiro se torna na política.


Uma aliança, uma coalizão – e a própria definição implica não apenas convergência de interesses, mas, também, multiplicidade de visões, de opções, de partidos – nunca será pacífica.


Algumas, é verdade, experimentam menos sobressaltos, porque mais bem administradas.

Mas, em todas, ha inúmeras disputas por espaço; por mais e mais poder.


E, a esta altura do campeonato, fica difícil imaginar que PT e PMDB já esgotaram todas as possibilidades de diálogo, de composição.


Mais ainda quando, certamente, ainda nem começaram a discutir as bases de uma eventual aliança também em 2010.


É verdade que há fumaça à beça, vinda da Assembléia Legislativa e da imprensa.


Mas, quem garante que ela sinalize, de fato, um incêndio de grandes proporções, a impedir qualquer composição no ano que vem?


Ou, melhor ainda: quem garante que tanta fumaça não signifique, apenas, que os jogadores estão apenas fazendo aquilo que mais gostam de fazer?

Quer dizer: JOGAR...


FUUIIIII!!!!


(PS: se der, vou tentar pegar umas informações no meio político, para voltar ao tema. Se não o fizer, me perdoem: ando enrolada demais no meu próprio “jogo da sobrevivência”...)

2 comentários:

Anônimo disse...

Você nem precisa pegar mais informações. Sua análise está perfeita. Qaundo eu crescer, você minha assessora de marketins para minha campanha: seja lá pra que for.

Anônimo disse...

Ana, faça um milagre e arranje um tempinho para pegar mais informações junto as suas fontes. O seu público e seus admiradores fieis necessitam sempre de mais um pouquinho desse banho de jornalismo que você nos proporciona aqui no seu blog.