segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O SPA da Casa Civil


O chamado “esvaziamento” da Casa Civil do Governo do Estado não parece preocupar as lideranças do PT.



E, se de fato existe, está sendo digerido sem dificuldade até pelo médico Everaldo Martins, que chega a Belém no próximo dia 24 e assumirá o cargo em primeiro de março, em substituição a Cláudio Puty.



“Não vejo esvaziamento da Casa Civil; em princípio, não. É um redimensionamento normal”, disse Everaldo, em rápido contato telefônico com a Perereca.


E observou: “Há algumas coisas que foram colocadas na Casa Civil num determinado momento e que agora voltam às suas secretarias originais. Meu papel é diferente de tocar programas. Na Casa Civil, meu papel é o de ajudar a consolidar o governo”.

Everaldo não pareceu preocupado nem mesmo com as aeronaves do Governo, cuja autorização de deslocamento passou às mãos do secretário particular da governadora Ana Júlia Carepa.

“No tempo do Jatene as aeronaves eram coordenadas pela Casa Militar”, lembrou, quando lhe perguntei sobre o fato.

Sobre o que muda com a sua ascensão à Casa Civil, disse, apenas: “O Puty está saindo para ser candidato e a idéia é que a gente possa continuar a construir a governabilidade e ajudar na arquitetura política para a eleição”.

Mesmo quando se conversa com lideranças petistas sob a garantia de anonimato, a impressão é a mesma: elas não estão nem aí para o fato de a administração das aeronaves ou de programas como o Pró-Jovem e o de Regularização Fundiária ter sido transferida para pessoas ligadas a Puty.


“Não existe esvaziamento nenhum. Isso foi acertado com o Everaldinho, cuja escolha para a Casa Civil aconteceu em 18 de janeiro, aliás muito antes desse negócio de falarem em crise no PT, coisa que também não existe”, garantiu uma fonte da Unidade na Luta, a tendência de Everaldo.


E esclareceu: “O que ficou acertado é que ele ficaria com a coordenação política e não com a gestão da Casa Civil”.


Segundo a fonte, a transferência do Pró-Jovem, por exemplo, para a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social segue uma tendência nacional:


_O Pró-Jovem foi concebido pela equipe da ministra Dilma Rousseff e havia uma orientação para que ele ficasse na Casa Civil. Mas, chegou-se à conclusão, nacionalmente, de que ele tem mais afinidade com a área social. O Luz no Campo, na época do Zé Dirceu, também ficava na Casa Civil. Muitas dessas ações foram levadas para lá, para ficarem mais perto do presidente Lula. Mas, desde o ano passado, por já estarem consolidadas, elas foram sendo transferidas para outros locais.


Pelo mesmo caminho vai outro integrante da Unidade na Luta: “Não estamos preocupados se esvazia ou não (a Casa Civil), até porque havia um monte de projetos lá que não deveriam estar. O Pró-Jovem, por exemplo, deveria estar na secretaria de assistência social, e a regularização fundiária no Iterpa”.


Para a fonte, o importante, de fato, foi a mexida na Casa Civil.
“Desde que o Puty decidiu ser candidato que aconselhamos a Ana que o melhor era tirá-lo da Casa Civil, por causa da articulação política.” – relata a fonte – “No mínimo, ele virou um concorrente dos outros, mas, no conjunto dos aliados. Ela (a governadora) não tirou e se confirmou o que estávamos dizendo. Quando é agora percebemos que isso tinha se acirrado de tal maneira que a ala principal do PMDB não mais acreditava na possibilidade de conversar, a partir da articulação política. A confiança estava em xeque. E foi aí que, num processo de acordo, colocamos o nome do Everaldo”.


E acentuou: “Pluralizamos, para sinalizar aos aliados que eles terão possibilidade também de crescer. Esse é o centro da questão. Esse foi o sentido da nossa articulação: o sentido de pluralizar o comando do governo e restabelecer a relação de confiança com os aliados. O Everaldo assume com a função de fazer a articulação política com uma visão plural e resgatar a confiança dos aliados”.


Uma questão de obesidade


Mesmo para petistas que criticam o Governo, o emagrecimento da Casa Civil é salutar.


“Os programas estão saindo da Casa Civil pelo mesmo motivo que entraram: interesse eleitoral”, diz-me um desses críticos.


E observa: “eles estão tirando, não o programa em si, mas, trocando o ordenador de despesa. Estão, em outras palavras, desidratando a Casa Civil. Mas, por outro lado, isso é até melhor, porque devolve à Casa Civil à sua função precípua, que é a de articulação política”.


Também para essa fonte, o problema central nem é o “esvaziamento”. Mas, a possibilidade de que a mexida na Casa Civil não resulte em mudança efetiva da postura do governo – ou seja, do chamado “núcleo duro” da Democracia Socialista (DS), a corrente da governadora Ana Júlia Carepa e de Cláudio Puty.


“Há nisso, é claro, o aspecto simbólico, de o PT dando um grito, dizendo que é maior que a DS e a Ana. Mas, na prática, isso muda pouca coisa”, assinala.


Além disso, vê pelo menos dois riscos nessa “intervenção” na Casa Civil.


O primeiro é quanto à separação que tem de haver entre o partido e o governo.


Em poucas palavras: se o governo, por um lado, “é do PT”, uma vez que encarna o discurso do partido, por outro, não é exatamente do PT, já que tem de servir à sociedade como um todo e foi conquistado por uma coalização.


O segundo risco é tão ou mais complicado, uma vez que põe em xeque a autoridade da governadora – e até reforça a visão retrógrada, machista, de quem acredita que as mulheres não têm a necessária força para o comando.


“Ela sai das mãos do núcleo duro e o PT vem e intervém, colocando numa área estratégica alguém que ela não queria”, resume.


Por ironia, a sinuca derivaria, em parte, do próprio carisma de Ana Júlia – a qualidade que fez dela, afinal, uma petista maior que o PT.


A fonte explica: “A Ana nunca teve uma história de construção partidária. A vida toda dela sempre foi dentro do PT, mas ela sempre transitou num espaço mais amplo que o PT. O fato de ter uma história de falar com o partido de cima pra baixo criou um vício: ela se habituou a não se preocupar com a construção partidária. Isso ajuda a compreender por que virou as costas ao partido”.


E acrescenta: “Agora, pela primeira vez, ela é menor que o PT (porque precisa do partido para se reeleger) e isso gera um conflito. O PT chegou com ela e disse: ‘ou você faz essa mudança ou a gente faz prévias’. Foi um choque muito grande para ela. Agora, eu acho difícil ela sair disso”.


Crise? O embate é permanente...


Para quem conhece bem o PT, o arranca-rabo do último janeiro entre a DS e o PT pra Valer, através de uma explosiva carta da deputada Bernadete Ten Caten, não configura exatamente uma crise.


Isso porque os embates no interior do PT são permanentes: como o PT é um partido democrático, há espaço para inúmeros pólos de poder, a maioria com uma militância aguerrida por trás, que tem de ser convencida - e não simplesmente manipulada.


Daí que o verdadeiro xis da questão, como já abordado neste blog, é o fato de a governadora pertencer a uma tendência minoritária, já que 80% do partido, no plano estadual, são controlados pela Unidade na Luta e pelo PT pra Valer.


Além disso, Ana parece ter perdido a liderança da DS – uma situação oposta a de Paulo Rocha, Mário Cardoso, Zé Geraldo, Aírton Faleiro e Bernadete Ten Caten, que marcham, de fato, à frente de suas correntes.


Outro problema é a própria configuração da DS: um agrupamento de intelectuais com pouca ou nenhuma experiência política.


O resultado é um caldeirão ainda mais complexo que a conquista da Prefeitura de Belém por outra corrente minoritária do PT, a antiga Força Socialista.


No que isso resultará ninguém sabe.


No entanto, mesmo que fracassem as tentativas petistas de “enquadrar” a DS, soam algo imaginativas algumas das hipóteses que circulam nos bastidores políticos.


Uma delas é a de que o PT poderia abandonar Ana às feras, para eleger Paulo Rocha ao Senado e Jader Barbalho ao Governo do Estado.


O problema aí é a própria democracia petista: os “companheiros” quase se comem vivos nas disputas internas. Mas, na hora do pega pra capar, as disciplinadas bases vermelhas marcham unidas sob a bandeira do petismo – como se viu na reeleição de Edmilson e na própria eleição de Ana Júlia Carepa.


E seria muito, muito difícil convencê-las a votar em Jader e não na “companheira”...


E tem mais: agora, não há nem como a cúpula partidária ou alguma corrente puxar o tapete de Ana Júlia, como parece ter acontecido na eleição para a Prefeitura de Belém.


Quem controla a máquina e o cofre é a própria Ana Júlia.


E isso também torna improvável que o PT negue à governadora a possibilidade de concorrer à reeleição.


Num quadro como esse, o partido ficaria à deriva, com dificuldade até para a recepção de financiamento federal.


Além disso, Ana ficaria como que “liberada” para investir maciçamente nas candidaturas da DS.


Seria, enfim, um salve-se quem puder.


E um salve-se quem puder mais provável é que Ana afunde, levando com ela boa parte das lideranças petistas, caso o PT não consiga controlar a DS – ou Ana não resolva, enfim, se afastar dessa tendência.


Porque, na hipótese de a DS continuar a dar as cartas no governo, Ana provavelmente ficará sem aliados, ou sem o seu principal aliado - o PMDB.


No entanto, a improbabilidade de o PT negar o direito de reeleição à Ana Júlia não impossibilita outra hipótese corrente nos bastidores: a da realização de prévias partidárias.


Isso porque a própria democracia interna do PT facilita a disputa: a única condição estatutária para que alguém se candidate internamente é que seja filiado há mais de um ano.


Mas o principal é que há, sim, petistas descontentes – e não apenas com o comportamento da DS.



Nem Lula escapou


“Há setores do PT que acham que a Ana não é a melhor candidata, por ter concentrado o governo, não ter atendido a todos e não ter feito políticas que caracterizem um programa de transformação” – diz uma liderança petista, que pede para se identificar.


Entre esses descontentes estariam integrantes da Articulação de Esquerda, do Movimento PT e do PT LM.


As três tendências representam de 2% a 6% do partido a nível estadual e alcançam uns 7% a 8% em Belém.


Quer dizer: nada impede que lancem um candidato. Mas, problemático só seria se tal movimento fosse apoiado pela Unidade na Luta e pelo PT Pra Valer, que, como já se disse, detêm 80% do partido – outros 12% estão nas mãos da DS e, o restante, entre correntes ainda menores e os independentes.


Esse tipo de postura das correntes minoritárias, que lançam candidatos nas disputas internas para marcar posição, não é um fato inusitado no PT.


Como lembra a fonte, tendências menores lançaram candidato ao Diretório Estadual, no mais recente PED - o processo de eleições internas do PT. No entanto, o presidente regional, João Batista, se reelegeu com 92% dos votos.


“O próprio Lula teve de se bater com o Suplicy, que se lançou candidato contra ele, na última eleição”, recorda.


Daí que esse tipo de embate, se apenas com tendências diminutas, não representaria, internamente, um desgaste para Ana Júlia – embora o mesmo não se possa dizer de suas repercussões externas.


“Um candidato que não agrada ao partido todo é complicado”, suspira a fonte.


E completa: “Eles (os setores descontentes) têm uma análise crítica, mas, não têm nome para lançar”.


Pergunto o que ele(a), que pertence a uma corrente majoritária, pensa de tudo isso.


A resposta: “Qual a política que se destaca no governo da Ana, a política que encha os olhos da sociedade? Os tucanos vão apresentar mais coisas que fizeram... É verdade que investimentos muito em segurança, mas, não resolveu o problema”.


E desabafa: “O grande problema da Ana foi trazer da universidade um bando de teóricos, um bando de acadêmicos, mas, sem experiência na vida pública”.


A fonte garante que, “hoje”, não há risco de uma candidatura interna contrária a de Ana Júlia.


Mas, lá pelas tantas, escorrega: “Não vejo, hoje, espírito de bater chapa com a Ana. Mas, a conjuntura é um elemento fundamental, e que vai até junho definir o rumo das candidaturas do PT”.


Diz que o governo, sintomaticamente, “não abre” as pesquisas de que dispõe. Mas, a informação extra-oficial é que a rejeição de Ana já teria alcançado 61% - embora alguns garantam que caiu para 50%.


E afirma, ainda que meio relutante: “Não há possibilidade de bater chapa com a Ana, não pela conjuntura, mas porque o adversário principal é o PSDB, que, aliás, está enfraquecido e não encontra rumo. A questão interna com o Almir não está resolvida. Aliás, eles não têm definição nem em relação ao Serra”.


E, até para não perder a prática, dispara: “Veja só... O Jatene está pelo interior, ouvindo a população. Mas eles nunca fizeram isso!... Como é que agora estão dando uma de democratas?”


A fonte confirma que a mexida na Casa Civil “foi, de certa forma, uma imposição não só das tendências partidárias, mas, também, dos aliados, para voltar a ter um mínimo de diálogo. Porque, além do cara (Puty) ser titular da Casa Civil, era o canal político da governadora, o cara que fazia a negociação política. Era complicado ele sendo candidato, ouvir outros candidatos. Nem os aliados tinham confiança. Não dá para conversarem os interesses deles com alguém que vai disputar com eles”.


Disse esperar que Everaldo Martins, cujo irmão é deputado e candidato à reeleição, não incorra no mesmo erro de Puty: “Ele (Everaldo) tem experiência política – foi vice-prefeito de Santarém, secretário de Saúde em Belém é o articulador político da Maria (prefeita de Santarém). Já tem um acúmulo, não pode cometer erros infantis”.


E esclarece: “O Everaldo foi convidado para a Casa Civil em 18 de janeiro, devido ao ponto a que havia chegado o esgarçamento com o PT e com os aliados. Não teve nada a ver com a carta da Bernadete. Isso foi só a gota d’água”.


4 comentários:

ANDERSONNBELEM disse...

Em primeiro lugar é muito dificil de confiar em alguém que se diz descontente, crítica e no entanto não se identifica, assim a fonte fica um tanto quanto desacreditada vocês não acham? contudo quero fazer algums exclarecimentos. Quem conhece O PARTIDO DOS TRABALHADORES sabe que uma de sua principal marca é a diferença. O PT é um partido de massas e plural onde cada um pensa de maneira diferente, não havendo casiquismo, sendo assim é natural que haja ´divergências internas, e isto é bom para a construção histórica do partido, pois pra quem não sabe foi assim que o PT consiguiu se tranfomar em um dos maiores partidos políticos da América Latina.
Não há crise no PT. A militância, o maior patrimônio deste partido estará unida não só pra reeleger a Governadora Ana Julia, mas também para eleger a Dilma Presidente e também o seus senadores. Alguma dúvida?
A saída de Claudio Puty da Casa Civil é um processo Extremamente normal e natural, pois doravante o Secretário terá que se ocupar com a sua candidatura para a câmera federal, principalmente porque este é um forte candidato a se eleger deputado federal.
O PT, à revelia das especulações externas marcha forte e unido para consolidar o projeto de uma sociedade mais justa.

Anônimo disse...

tsc tsc... quem conhece o PT sabe que HÁ CACIQUISMO SIM! SEMPRE HOUVE. E os índios vão trabalhar para seus caciques. Vão trabalhar para eleger os deputados indicados por suas correntes/tendências.
No caso de Edmilson e mesmo de Ana Júlia, os caciques, e o grosso da militância só entraram pra valer nas campanhas quando as campanhas esquentaram e os majoritários cresceram nas pesquisas. Daí os proporcionais perceberam que era melhor colar no majoritário, que dava voto... igualzinho a qualquer partido... cálculo político eleitoral não tem cor, companheiro...

Anônimo disse...

Acho muito provável que a militância não abrace a campanha de reeleição da Ana Júlia... acho muito provável que realmente toque as campanhas dos caciques e deixe a candidatura da Ana Júlia de molho, esperando pra ver se esquenta... como o governo está "mau na foto" e talvez nem dê tempo de reverter isso, inclusive pela fraca qualidade da propaganda, é capaz até que vejamos, logo no início da campanha, muito candidato proporcional abraçado com Lula e Dilma, mas não com Ana Júlia... só depois, vai baixar o "centralismo democrático" do governo pro partido e aí Ana Júlia vai sorrir nas placas, pelo menos nas placas né?

Anônimo disse...

O andersonn está certo não há cacique, o partido está unido como sempre esteve em todas as eleições, e mais uma vez vai mostra sua força elegendo Dilma Presidente, Ana Júlia Governadora e cada tendência trabalhando para eleger o seu deputado.